Riacho de Santana e o período colonial

O que sabemos de Riacho de Sant'Anna no período colonial

Uma das muitas estratégias de colonização que o Reino Português utilizou para dominar o Brasil foi a concessão de sesmarias. O vasto território desconhecido era dividido em enormes propriedades chamadas sesmarias, que eram concedidas a portugueses e filhos de portugueses nascidos no Brasil, com a condição de que as terras fossem exploradas e se tornassem produtivas.

Na plataforma SILB - Sesmarias do Império Luso-Brasileiro - organizada pela UFRN e outras universidades brasileiras, foram resgatados os documentos de muitas sesmarias requeridas e doadas pela Coroa, e, principalmente, esses dados foram sistematizados, sendo possível consultar as sesmarias por meio do nome do donatário ou pela capitania de localização. Lá consta, na Capitania do Rio Grande do Norte, uma sesmaria no nome de Mathias Fernandes Ribeiro, na localidade Riacho de Sant'Anna. O requerimento foi feito em 20/07/1802 e o lugar é assim descrito:

As terras requeridas estendiam-se em torno do local conhecido como Direito e Riacho de Sant'Anna. Confrontavam-se com o rio do Peixe e com o Tabuleiro do Padre. Ao norte com a serra de São Jose e ao sul com a serra Luís Gomes, anteriormente chamada de Bom Jesus.

Descrição, portanto, mais que perfeita da localização atual do município de Riacho de Santana, levando em consideração que a precisão geográfica dos limites territoriais das sesmarias não era sempre perfeita e que a menção ao Rio do Peixe pode ter sido apenas uma alusão a proximidade com a divisa entre RN e PB. Mais interessante ainda é a citação do Tabuleiro do Padre já àquela época e como sendo propriedade diferente da denominada de Riacho de Sant'Anna. Infelizmente, não foram achados outros documentos sobre o Tabuleiro, e as ideias a respeito da origem de seu nome permanecem meramente especulativas, (talvez por ter existido ali em algum momento uma Missão chefiada por padre jesuíta que tenha sucumbido diante da violenta ofensiva dos bandeirantes paulistanos na Guerra do Açu). A Serra de São José é o limite natural de Riacho de Santana com o município de Coronel João Pessoa e a Serra de Bom Jesus o limite natural com o município de Luís Gomes. Ainda sobre o documento de 1802, é descrito que Matias Fernandes alegava ser o descobridor das terras e seu ocupante de fato, com criação de gado e moradia estabelecida. Ao oficializar a concessão, o Rei exige a ocupação do lugar, a abertura de pontes e estradas e o respeito aos limites das terras dos índios. Esse pode ter sido o início do povoamento branco/europeu de Riacho de Santana.


Mathias Fernandes Ribeiro era um dos brancos desbravadores das terras do sertão potiguar, outrora dominadas pelos povos originais. Acredita-se que era descendente de judeus que haviam fugido para o Brasil fugindo da Inquisição em Portugal (chamados cristãos-novos). Casou-se com Maria Gomes de Oliveira e deixou uma grande descendência.





Retrato de Maria Gomes de Oliveira Martins, filha do fundador de Martins e matriarca de boa parte das famílias de Riacho de Santana. Foto do livro Memorial de Família, de autoria de João Bosco Fernandes.



Herança e família

A próxima vez que Riacho de Santana vem aparecer em documentos oficiais é no ano de 1861, nos registros de batismo de Pau dos Ferros. (Estranhamente, depois deste ano os registros da paróquia de Pau dos Ferros pulam para o ano de 1900). São registrados em 1861 batismos realizados nas localidades Catingueira e Riacho de S. Anna, além de Água Nova e Serra das Almas.

Dentre os nomes de pais e padrinhos referidos em Riacho de S. Anna está o de Cypriano Gomes da Silveira e Catharina Martins de Bessa, que eram netos de Matias Fernandes, além de Manoel Vieira e José Vieira. As duas vias se encontram por meio de casamentos e relações familiares, gerando os primeiros colonizadores de fato, que trouxeram suas famílias e se estabeleceram neste território. Foram eles: o Capitão Joaquim Antônio de Carvalho, membro da tradicional família Carvalho de São Miguel, que segundo relatos orais diversos, estabeleceu-se no território atualmente correspondente ao sítio Paul, por volta de 1850, com sua esposa Maria Gomes da SilveiraManoel Félix do Nascimento, também natural de São Miguel, e sua esposa Thereza Maria de Jesus Vieira, que se instalaram no sítio Lagoa de Pedras e arredores por volta de 1880; Joaquim Coelho da Silva e Joana Gomes Nepomuceno, que também viviam no Paul, ao nascente, no pé da Serra do Camelo. 

A casa mais antiga ligada a família Fernandes ainda em pé, entretanto, está localizada no sítio Lagoa da Onça, vizinho ao Catolé, hoje conhecida como Fazenda Baependi. Pertencia a descendentes de Mathias Fernandes e foi objeto de rivalidades entre os Fernandes de Bessa e os Fernandes Gurjão. Sua construção pode, portanto, remontar ao período colonial.

Outro nome que aparece nestes registros de 1861 é o de Vicente Pereira de Castro, ancestral da família Braúna.




Foto de 1986 da Fazenda Baependi. Fonte: Acervo Iconográfico do RN, UFRN.
Casa do sítio Baependi, localizado nas imediações do sítio Lagoa da Onça, entre Riacho de Santana e José da Penha. Foto de 1986, do Arquivo Iconográfico do RN, UFRN.






Na Catingueira, aparecia, em 1861, o nome de Antônio Barbosa Cavalcanti, que era um bem sucedido proprietário nos sítios Oliveira, Salobro, Catingueira e Poço de Pedras, com sua residência fixada no Oliveira. Conforme conta Francisco Alexandre (Chico de Doca), em 1846 Antônio Cavalcanti construiu uma casa em seus domínios no Poço de Pedras, vendendo-a em 1888 ao casal José Alexandre da Silva Maia e Maria Raimunda Lopes Cardoso

Foto de 1986 da casa construída em 1846 por Antônio Cavalcanti. Até hoje a casa ainda está de pé. Fonte: Acervo Iconográfico do RN, UFRN.

Casa do Poço de Pedras, erguida em 1846 por Antônio Barbosa Cavalcanti, adquirida em 1888 por José Alexandre. Foto de 1986, do Arquivo Iconográfico do RN, UFRN.

 Com relação às outras localidades, principalmente do chamado setor de baixo, carecemos de dados escritos a respeito desse período histórico.

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