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APONTAMENTOS SOBRE A HISTÓRIA DA FAMÍLIA CAJÉ

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A família Cajé de Riacho de Santana surge a partir de um homem chamado Francisco de Paula, oriundo da região da Serra do Garrancho, localizada atualmente em território do município de Poço Dantas, bem próximo a divisa da Paraíba com o Rio Grande do Norte, onde existe uma propriedade rural denominada Cajé - nome que provavelmente tem origem indígena. Francisco de Paula era carpinteiro e pedreiro em Pau dos Ferros já por volta de 1850, quando deu um parecer em um processo a respeito de uma obra realizada na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, e na ocasião é registrado no documento que seu apelido era Cajé (1). Encontramos documentos que mostram que Francisco de Paula teria se casado com uma mulher chamada Maria José da Conceição, que pertencia a família Santos, uma das colonizadoras do território da sesmaria de Riacho de Sant'Anna. O único filho conhecido do casamento de Francisco de Paula e Maria José foi Manoel Cajé da Silva, que a exemplo do pai também era carpinteiro e pedreiro

O TABULEIRO DO PADRE: PRIMEIROS REGISTROS E A GRANDE FAMÍLIA (ELIAS, CONRADO, PELADO, BARRO)

  O TABULEIRO DO PADRE Até pouco tempo, não fazia ideia de que o termo “Tabuleiro do Padre”, bem como “Riacho de Santana”, eram tão antigos. Até que consultando a plataforma SILB – Sesmarias do Império Luso-Brasileiro, encontrei a sesmaria intitulada Riacho de Santana, cedida em 1802 a Mathias Fernandes Ribeiro, localizada no Oeste do Rio Grande do Norte, com limites definidos entre duas serras: a Serra de São José e a Serra de Luiz Gomes, portanto correspondente, obviamente, ao território atualmente contido no município de Riacho de Santana. O mesmo documento cita que Riacho de Santana era vizinha a outra propriedade, denominada Tabuleiro do Padre. Mais recentemente ainda, encontrei uma referência ainda mais antiga ao Tabuleiro do Padre, no livro Crônica do Sertão do Apodi, no qual o autor transcreve, em um dos capítulos, a lista de fazendas da Ribeira do Apodi (que compreendia todo o alto oeste do Rio Grande do Norte) em 1781. Na lista, próximo às fazendas "Riacho", "

A ORIGEM E AS AVENTURAS DA FAMÍLIA AIRES

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A ORIGEM Conforme relatos familiares do saudoso Chico Preto, estudioso da história da família, tudo começou com três irmãos que saíram da Ilha da Madeira e aportaram nas praias de Aracati, fugindo da Inquisição que os perseguia por serem judeus. No Brasil, ganharam o apelido de "os Marinheiros". Um destes irmãos desceu para a região dos Inhamuns, no Ceará, onde se entrelaçou por meio de casamento com uma mulher da família Cavalcanti de Albuquerque. Durante o século XIX, parte desta família se envolveu em conflitos armados com outros grupos familiares na disputa por terras e poder econômico e político. Alguns membros da família fugiram e encontraram abrigo em Pau dos Ferros, onde vamos identificar a figura de  Ayres Affonso,  na metade do século XIX, que apesar de ter muitos parentes vivendo nos Torrões, em Pau dos Ferros, foi casado com Maria Ferreira de Macedo, herdeira de terras localizadas nos arredores da Serra do Camelo, entre José da Penha e Luís Gomes. Sabemos que eles

Fraudes e disputas familiares - a primeira eleição e a invenção de Riacho de Santana

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Riacho de Santana, uma sesmaria em 1802, vila em 1936, distrito em 1948 e município em 1962. Essas mudanças exigiram que se inventasse Riacho de Santana. Isso porque os núcleos de povoamento ( Pau D’arco, Riacho de Santana, Tabuleiro, Poço da Pedra...)  não tinham ainda tanta ligação entre eles.  O primeiro momento crucial para que Riacho de Santana viesse a se tornar uma cidade foi a construção da capela de São João Batista, nos anos 30. Durante este processo, percebemos o envolvimento de diversos grupos da sociedade, interessados em trazer algum progresso para a região. Manoel de Fontes foi um dos grandes pilares do movimento da construção da igreja, atuando na administração das finanças do projeto e hospedando algumas das primeiras missas em sua casa.  Por outro lado, Alexandrina Cajé, rezadeira afamada e reconhecida como velha acolhedora, vivideira, agricultora, criadora, caçadora e cozinheira, representava, juntamente com sua enorme família, uma força também muito importante. A do

As histórias esquecidas de Riacho de Santana parte 4: as crianças que foram vendidas por duas cuias de farinha

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(continuação...)  Ao contrário do que o senso comum supõe, a escravidão no Brasil durou bem além de 1888. Mesmo após a abolição e a proclamação da República, as pessoas continuaram escravizando, utilizando as mais diversas camadas de maquiagem para tentar esconder a realidade cruel. A pobreza extrema da parte da população que obteve liberdade mas não obteve direitos sociais tornou ainda pior essa situação. Alguns dos fenômenos observados a partir desse período e até os dias atuais são a escravidão disfarçada de acolhimento, o trabalho sob condições desumanas em troca de um prato de comida e a quitação de dívidas contraídas utilizando pessoas como moeda de troca. É nesse instante que a história contada tantas vezes por Francisco Antônio do Nascimento - universalmente conhecido como Cinino - na calçada de sua casa, vem a mente como exemplo da perpetuação da escravidão aqui em nossas terras. Cinino conta que seu avô, Pedro Choto, teria vendido os três filhos - Cícero, Manoel e Santana - p

As histórias esquecidas de Riacho de Santana parte 3 - Uma sociedade religiosa secreta, perseguida pela cruz e pela espada

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(...)  Continuando a narrativa (post anterior) , lembramos que uma das índias do Caripina, Maria Antônia, casou-se com o herdeiro mais velho do dono do Paul, que se chamava José Felipe. Além da presença da religiosidade dos povos nativos, a família Carvalho possuía ainda um aspecto extra em sua vida, pouco conhecida, revelada durante a pesquisa de monografia do conterrâneo Cleonildo Costa, mais conhecido por aqui como Toinho de Juvenal. Entrevistando mulheres da Vila São Bernardo, em Luís Gomes e do Paul, Cleonildo recuperou a memória de uma história fascinante que ouvira em sua infância, sobre um grupo secreto de homens encapuzados que se açoitavam na madrugada, e produziu ciência a partir dela dentro do curso de Letras da UERN.  A Irmandade dos Penitentes ou Ordem dos Penitentes foi/é um movimento religioso formado por pessoas católicas que expressavam sua fé por meio de práticas de auto-flagelação. A origem exata desses grupos se confunde com a história da penitência dentro do catol

As histórias esquecidas de Riacho de Santana - parte 2: Havia uma povoação indígena no Caripina?

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(Continuação) Há uma afirmação de Câmara Cascudo de que o massacre dos índios em Portalegre foi o fim do índio no RN. Hoje sabemos que ocorreu na verdade  uma criminalização da figura do índio , que acabou se convertendo na figura do  "caboclo brabo" , caçado a casco de cavalo e dente de cachorro, história universalmente presente nas famílias do sertão, contada e recontada infinitas vezes. O que realmente ocorreu foi que os índios, fugindo da perseguição em Portalegre, tentaram alcançar a província do Ceará. Nesse movimento, muitos fazendeiros caçaram ativamente os nativos, usando-os como trabalhadores ou tomando as mulheres como esposas. No percurso de Portalegre para o Ceará, um dos caminhos é por entre as serras do Vale do Rio Santana, tão bem conhecidas dos povos indígenas, utilizadas como abrigo durante as cheias e esconderijo contra os invasores. Consta em documentos oficiais da Capitania do Rio Grande do Norte , uma sesmaria no nome de  Mathias Fernandes Ribeiro , na