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Mostrando postagens de julho, 2020

As histórias esquecidas de Riacho de Santana parte 3 - Uma sociedade religiosa secreta, perseguida pela cruz e pela espada

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(...)  Continuando a narrativa (post anterior) , lembramos que uma das índias do Caripina, Maria Antônia, casou-se com o herdeiro mais velho do dono do Paul, que se chamava José Felipe. Além da presença da religiosidade dos povos nativos, a família Carvalho possuía ainda um aspecto extra em sua vida, pouco conhecida, revelada durante a pesquisa de monografia do conterrâneo Cleonildo Costa, mais conhecido por aqui como Toinho de Juvenal. Entrevistando mulheres da Vila São Bernardo, em Luís Gomes e do Paul, Cleonildo recuperou a memória de uma história fascinante que ouvira em sua infância, sobre um grupo secreto de homens encapuzados que se açoitavam na madrugada, e produziu ciência a partir dela dentro do curso de Letras da UERN.  A Irmandade dos Penitentes ou Ordem dos Penitentes foi/é um movimento religioso formado por pessoas católicas que expressavam sua fé por meio de práticas de auto-flagelação. A origem exata desses grupos se confunde com a história da penitência dentro do catol

As histórias esquecidas de Riacho de Santana - parte 2: Havia uma povoação indígena no Caripina?

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(Continuação) Há uma afirmação de Câmara Cascudo de que o massacre dos índios em Portalegre foi o fim do índio no RN. Hoje sabemos que ocorreu na verdade  uma criminalização da figura do índio , que acabou se convertendo na figura do  "caboclo brabo" , caçado a casco de cavalo e dente de cachorro, história universalmente presente nas famílias do sertão, contada e recontada infinitas vezes. O que realmente ocorreu foi que os índios, fugindo da perseguição em Portalegre, tentaram alcançar a província do Ceará. Nesse movimento, muitos fazendeiros caçaram ativamente os nativos, usando-os como trabalhadores ou tomando as mulheres como esposas. No percurso de Portalegre para o Ceará, um dos caminhos é por entre as serras do Vale do Rio Santana, tão bem conhecidas dos povos indígenas, utilizadas como abrigo durante as cheias e esconderijo contra os invasores. Consta em documentos oficiais da Capitania do Rio Grande do Norte , uma sesmaria no nome de  Mathias Fernandes Ribeiro , na

As histórias esquecidas de Riacho de Santana - parte 1: Os eventos na serra de Portalegre e o que tem a ver com a gente

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Na história de Riacho de Santana, onde estavam os índios e os africanos escravizados? Os povos originais A mais impressionante história de resistência de um povo aconteceu aqui. Durante mais de 1 século, os índios do sertão resistiram ao avanço da colonização portuguesa. Muitos historiadores já descreveram esse período por meio do título de  Guerra dos Bárbaros , mas o termo  Guerra do Açu  é mais preciso e denota especialmente a etapa final, que se concentrou na região que hoje corresponde a região Oeste do Rio Grande do Norte. Nossos índios eram chamados coletivamente de  tapuias , o que não fazia jus a enorme diversidade de etnias que se constituíram no sertão nordestino: paiacus, cariris, canindés, januís, panatis, icós, caborés... Os paiacus eram pintados pelos portugueses como brutos, selvagens e canibais. Durante a Guerra do Açu, grande parte destes índios foram dizimados, e os sobreviventes foram abrigados na  vila de Portalegre,  misturando várias tribos da Paraíba e do Ceará

Riacho de Santana no início do século XX

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O Almanak Laemmert  foi uma publicação editada no Rio de Janeiro por muitos anos, que reunia informações diversas sobre todos os municípios do país. Nela constavam listas de políticos, religiosos, produtores, industriais e comerciantes de cada uma das cidades existentes à época. Como se sabe, Riacho de Santana era legalmente incorporado ao município de Pau dos Ferros, onde viria a se tornar vila, distrito e município. Na época que o Laemmert era publicado, entre 1891 e 1940, Riacho de Santana era apenas um emaranhado de propriedades rurais e terras livres dispostas ao longo do leito de um rio que desce a serra de Luiz Gomes e serpenteia entre esta e a serra de São José. Observando as listas de Pau dos Ferros podemos ter uma noção de quem eram os proprietários que alcançavam notoriedade suficiente para figurar nas páginas do encarte carioca. De Riacho de Sant'Anna encontramos quatro nomes apenas:  Pedro Vianna do Nascimento, José Felipe de Carvalho , já citados anteriormente,  e  Se

Riacho de Santana e o período imperial

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Encontramos evidências do povoamento de Riacho de Santana nos períodos anteriores ao advento da República nos jornais da época.  Em 1881 , após modificações na lei eleitoral do Império Brasileiro, foi realizado um Censo para identificar os cidadãos habilitados a votar. Além de ser homem, branco e alfabetizado, o eleitor também deveria provar uma renda superior a 200 mil réis. Portanto, a lista de eleitores aprovados permite uma estimativa de quem eram os latifundiários e outros ricos da época. Reproduzimos abaixo a lista dos eleitores, com informações adicionais obtidas em pesquisas. Lista publicada no jornal O Brado Conservador em 1881. 1. Joaquim Ferreira Nunes : Sabe-se que foi proprietário no sítio  Catingueira e Poço de Pedras , com grande criação de gado. Era de família politicamente influente em Luís Gomes e depois também em Pau dos Ferros. Detinha o título militar de alferes. Além dos muitos filhos que teve, seus descendentes constituíram relações familiares fortes com os  Barb

Riacho de Santana e o período colonial

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O que sabemos de Riacho de Sant'Anna no período colonial Uma das muitas estratégias de colonização que o Reino Português utilizou para dominar o Brasil foi a concessão de sesmarias. O vasto território desconhecido era dividido em enormes propriedades chamadas sesmarias, que eram concedidas a portugueses e filhos de portugueses nascidos no Brasil, com a condição de que as terras fossem exploradas e se tornassem produtivas. Na plataforma  SILB - Sesmarias do Império Luso-Brasileiro  - organizada pela UFRN e outras universidades brasileiras, foram resgatados os documentos de muitas sesmarias requeridas e doadas pela Coroa, e, principalmente, esses dados foram sistematizados, sendo possível consultar as sesmarias por meio do nome do donatário ou pela capitania de localização. Lá consta, na Capitania do Rio Grande do Norte, uma sesmaria no nome de  Mathias Fernandes Ribeiro , na localidade  Riacho de Sant'Anna . O requerimento foi feito em 20/07/1802 e o lugar é assim descrito: As t