O TABULEIRO DO PADRE: PRIMEIROS REGISTROS E A GRANDE FAMÍLIA (ELIAS, CONRADO, PELADO, BARRO)

 

O TABULEIRO DO PADRE

Até pouco tempo, não fazia ideia de que o termo “Tabuleiro do Padre”, bem como “Riacho de Santana”, eram tão antigos. Até que consultando a plataforma SILB – Sesmarias do Império Luso-Brasileiro, encontrei a sesmaria intitulada Riacho de Santana, cedida em 1802 a Mathias Fernandes Ribeiro, localizada no Oeste do Rio Grande do Norte, com limites definidos entre duas serras: a Serra de São José e a Serra de Luiz Gomes, portanto correspondente, obviamente, ao território atualmente contido no município de Riacho de Santana. O mesmo documento cita que Riacho de Santana era vizinha a outra propriedade, denominada Tabuleiro do Padre.

Mais recentemente ainda, encontrei uma referência ainda mais antiga ao Tabuleiro do Padre, no livro Crônica do Sertão do Apodi, no qual o autor transcreve, em um dos capítulos, a lista de fazendas da Ribeira do Apodi (que compreendia todo o alto oeste do Rio Grande do Norte) em 1781. Na lista, próximo às fazendas "Riacho", "Água Nova" e "Varzinha", encontramos a fazenda "Tabuleiro do Padre". São nomes que remontam, portanto, ao período do final do século XVIII e início do século XIX, bem mais antigos do que podíamos supor. Isso é sugestivo de que o “padre” citado na denominação seja alguma figura ligada a colonização, na época dos Aldeamentos e Missões. A existência de uma divisão entre Riacho e Tabuleiro passa a fazer mais sentido quando se observa que determinadas famílias ocuparam o território do Paul pra baixo, e outros grupos familiares se destacaram do Tabuleiro pra cima. 

No censo eleitoral de 1881 aparece o nome de um homem chamado Vicente José do Nascimento e Silva, que os mais velhos lembram como sendo Vicente Rapadura, o qual era fazendeiro importante e líder da família Nascimento, que parece ter sido uma das primeiras famílias a ter posse e influência naquela região. Outras referências ao nome Tabuleiro, de batismos e casamentos católicos realizados a partir de 1905, utilizam a variante “Tabuleiro do Meio”, provavelmente refletindo a natureza territorial do sítio, que fica entre Paul/Riacho de Santana (historicamente mais ligada a Pau dos Ferros) e o Poço de Pedras (historicamente mais ligada a Luiz Gomes). Também é comum ver apenas o nome “Tabuleiro” sozinho. Pelos registros, pode-se perceber que o Tabuleiro fazia parte do roteiro de visitas dos padres, pois alguns dos batizados/casamentos eram com pessoas de outras partes da região, que se deslocavam até o Tabuleiro para se casar. 

Batismos realizados no Tabuleiro em 1906, pelo Padre Tertuliano Fernandes

- Maria, filha de Sabino José Fernandes e Rosalina Maria da Conceição, padrinhos José Alves Pereira e Izabel Maria da Soledade (obs.: eram do Sobradinho)

- Luzia, filha de Achiles Carneiro de Lima e Antônia Maria da Conceição, padrinhos José Alexandre da Silva e Maria Raimunda da Conceição (obs.: eram do Poço de Pedras). 

- José, filho de Antônio Justino da Costa e Alexandrina Bertolda da Conceição, padrinhos Avelino Vieira da Costa e Thereza Maria de Jesus (obs.: eram de Riacho de Santana). 

- Anna, filha de Manoel Cypriano de Lima e Silvana Maria da Conceição, padrinhos Manoel Elias do Nascimento e Maria Salustiana do Nascimento (obs.: eram de Água Nova). 

Batismos realizados no Tabuleiro em 1907, pelo Padre Tertuliano Fernandes

- Antônio, filho de Joaquim Félix da Silva e Maria Emídia do Nascimento, padrinhos Manoel Domingos Ferreira e Maria Ferreira da Conceição (obs.: eram do Tabuleiro). 

- Lourenço, filho de José Vicente da Silva e Josefa Maria da Conceição, padrinhos Mamede Joaquim de Carvalho e Maria Vicência da Conceição (obs.: eram do Paul). 

Casamentos realizados no Tabuleiro do Meio em 1905

- Pedro Vicente da Silva com Thereza Maria de Jesus, viúvos. Testemunhas Damião Pereira e Pedro José de Carvalho. (obs.: residiam no Paul). 

 

A GRANDE FAMÍLIA DO TABULEIRO (ELIAS, CONRADO, PELADO, BARRO)

 

A família mais antiga identificada no Tabuleiro assinava pelo sobrenome Nascimento, o qual foi pulverizado em muitos outros. Parte dos Nascimento residiam em Grossos, de Pau dos Ferros, e outra parte no Tabuleiro. O nome mais antigo encontrado foi o de Victor José do Nascimento, o qual foi pai de pelo menos quatro filhos: Joaquina, Ernestina, Vicente e Rufina

1. JOAQUINA era casada com Vicente Sabino do Nascimento, e residiam no sítio Grossos. 

2. Vicente José do Nascimento e Silva, vulgo VICENTE RAPADURA, é citado no censo eleitoral de 1881 no 1º distrito eleitoral de Pau dos Ferros. Foi casado duas vezes, a primeira com Ana Joaquina da Paixão, que segundo relatos familiares era descendente de povos indígenas da serra de Portalegre, e a segunda com Cordulina Gomes de Mello. Foram seus filhos: 

2.1 ANA JOAQUINA DO NASCIMENTO, casada com Manoel Eugênio Ferreira, da Catingueira, residiam no Tabuleiro. Foram pais de muitos filhos, dentre os quais: Maria Tertulina, Alfredo Ferreira, Ananias Ferreira, Antônio Ferreira, José Eugênio Ferreira, Pedro Ferreira, Lourival Ferreira, e outros. 

2.2 SALUSTIANA MARIA DO NASCIMENTO, casada com seu primo Manoel Elias, deixando alguns filhos, dos quais registramos Vicente Elias, Ana Salustiana (casada com João Firino) e Maria Salustiana (casada com seu tio Pedro Barros). 

2.3 ANTÔNIA MARIA DO NASCIMENTO, casada com seu primo Minervino Elias, vulgo Minervino Pelado (ver abaixo). 

2.4 JOSÉ VICENTE DO NASCIMENTO, casado com Joanna Pereira, da Gameleira, faleceu em um seringal na Amazônia, sem deixar descendentes. 

2.5 MARIA DE ARAÚJO DO NASCIMENTO, casada com Manoel Francisco de Lima (Né Chico), do sítio Quintas, deixando muitos filhos. 

2.6 PEDRO JOSÉ DO NASCIMENTO, vulgo Pedro Barro, casado com sua sobrinha Maria, deixando filhos, dentre os quais Antônio Nozinho (Nô Barro) e Adalgiza (Dadá). 

3. ERNESTINA JUVINA casou-se com JOÃO ELIAS DAMASCENO, tornando-se a matriarca da família Elias, por meio de seus filhos:

3.1 MANOEL ELIAS DO NASCIMENTO, casou-se duas vezes, a primeira com sua prima Salustiana (2.2) e a segunda com Minervina Alves de Fontes, da região da Baixa do Fogo. Deixou muitos filhos: Vicente Elias, Ana e Maria (já relatados acima), e do segundo casamento: Francisco Afro, Areomiro, Cosme, Jeremias (Godó), Clodomiro, Querubina, Marcelino e Ana. 

3.2 MINERVINO JOSÉ DO NASCIMENTO, vulgo Minervino Pelado, devido ser completamente careca, também foi casado duas vezes, a primeira com Ana Maria, a qual deixou apenas uma filha, chamada Maria Paulina, que foi a primeira esposa de Francisco Pereira, da Gameleira, e a segunda com sua prima Antônia, deixando mais filhos: Augusto, Pedro, Cícero, Maria Antônia (Maricota, casada com Silvino Pereira), dentre outros, todos conhecidos como Pelados, devido o apelido do pai.

3.3 BALDUÍNO JOSÉ DO NASCIMENTO, casou-se com Regina, sua prima, do Sítio Grossos, deixando descendência em Pau dos Ferros-RN. 

3.4 OSMÍDIO DA SILVA CHAVES, foi casado duas vezes, com duas irmãs, respectivamente Maria Joaquina e Maria Augusta da Penha, da família Pereira da Gameleira. Deixou grande descendência: Ernestina, Eliseu, Adauto, Francisco, José (Zuca), Cirilo, Respício, João, Maria, Idelzuite e Gonçalo. 

3.5 JOÃO ELIAS FILHO era casado com Maria Victoria, irmã das esposas de seu irmão Osmídio. Foram os pais de Ernestina, Oscarina, Doralice, Raimunda de Perciliano, Ozelita, Maria e Antônio Elias, dentre outros.

3.6 COSMA JUVINA casou já em idade avançada com José Ciríaco da Silva, não havendo filhos.

3.7 JOSÉ BALBINO, vulgo Zé Elias, casado com Cândida Carminda, residiam no sítio Quintas, deixando também muitos filhos.

3.8 Haviam outras filhas mulheres, cujo histórico não foi possível recuperar por meio de documentos ou relatos.

4. RUFINA era casada com Benedito Amâncio de Souza, figura de liderança política e fazendeiro abastado. Foram seus filhos:

4.1 MARIA JULIANA DE SOUZA, casada com Conrado Ferreira Nunes, tronco da família Conrado, por meio de seus filhos Maria, Francisca (Chiquinha de Manoel Domingo), Antônia, Sebastião, João Conrado, Euclides, Perciliano, Carmelita, Ana, Júlia, dentre outros. 

4.2 ANTÔNIA EUGÊNIA DE SOUZA, casada com João Felipe Ferreira, irmão de Conrado e Manoel Eugênio, que residiam no sítio Tapera, em Pau dos Ferros.


Ainda faziam parte da família algumas figuras que não conseguimos identificar dentro da presente genealogia:

MARIA EMÍLIA DO NASCIMENTO, casada com Joaquim Félix da Silva, que eram os pais de Maria Cristina do Nascimento, esposa de Nel Quinco. 

JOSÉ CIRÍACO DA SILVA e sua primeira esposa TERTULINA MARIA DO AMOR DIVINO, cuja filha Francisca foi a primeira esposa de Silvino Pereira, da Gameleira. 

MARIA DA PENHA EVANGELISTA, casada com Domingos Ferreira Nunes e mãe de Manoel Domingos.

(Observação: boa parte dos documentos que comprovam os casamentos ou batizados citados foram catalogados pelo autor do blog e podem ser disponibilizados caso haja interesse). 

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